As apostas desportivas geram vendas de centenas de milhões de euros, mas saber dizer ao certo quanto vale este segmento de mercado em Portugal é um segredo ainda fechado à chave.
Mesmo depois da legalização do jogo online, o retrato do negócio movimentado no sector é ainda muito incompleto. As empresas de jogos online com apostas desportivas regulamentadas no país – a Betclic e a Bet – não publicam os seus resultados comerciais, nem o número de utilizadores.
Com a legalização do jogo online em Portugal desde Junho de 2015, a Betclic foi a primeira empresa a conseguir licença. Contactada pelo PÚBLICO sobre os números de vendas e utilizadores em 2016, a empresa não forneceu informação em tempo útil. Apenas confirmou um dado, já avançado à TSF, de que vai pagar cerca de 15 milhões de euros em sede de imposto especial de jogo online.
Os dados mais palpáveis sobre apostas desportivas dizem respeito apenas à outra parte da realidade – a do jogo de apostas à cota Placard, vendido na rede de mediadores da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa por todo o país. E mesmo esses são dados limitados, porque o jogo ainda é recente.
Só com o Placard, a expectativa inicial era conseguir num ano receitas no valor de 250 milhões de euros. Um número que dá uma ideia do volume de negócios e receitas envolvidas ainda sem contar com a fatia das concorrentes online.
Como o Placard foi lançado em Setembro de 2015 e ainda não há números completos relativos a 2016, os dados mais recentes referem-se apenas aos quatro meses desse primeiro ano em que o jogo entrou no mercado.
Só nesse período de arranque, de Setembro a Dezembro de 2015, as vendas do Placard chegaram aos 65,4 milhões de euros, quase o dobro do montante das vendas do Joker nos 12 meses desse ano (35,6 milhões) e perto de seis vezes do valor associado ao Totobola (11,3 milhões em vendas, jogo que nesse ano também teve um crescimento próximo dos 11%).
No Placard, em que há apostas simples, combinadas e múltiplas sobre prognósticos de jogos de futebol, ténis e basquetebol, o valor máximo que se pode arrecadar é de 100 mil euros.
Se assim foi no arranque, a expectativa era de que o jogo consolidasse e ganhasse fôlego. Isto tendo em conta que, no momento em que foi lançado, o então vice-provedor da SCML, Fernando Paes Afonso, dizia esperar que as receitas chegassem aos 250 milhões de euros num ano civil (gerando um lucro na ordem dos 50 milhões).
O peso deste novo jogo nos resultados da Santa Casa passou a ser, logo em 2015, de 1,7%. E conseguiu representar, logo nesse primeiro ano, 3,3% dos prémios atribuídos pela Santa Casa. O novo jogo passou a representar 13% das receitas obtidas pela Santa Casa no primeiro trimestre.
Dados mais recentes mostram que, no primeiro ano de actividade – de 9 de Setembro de 2015 a 31 de Agosto de 2016 –, o jogo captou 920 mil jogadores, que fizeram 84 milhões de apostas. O futebol foi, sem surpresa, o chamariz de quem quis arriscar: a modalidade concentrou 90% do volume das vendas e 93% do número de apostas.
A I Liga de futebol, o torneio de ténis Roland Garros e o Campeonato de basquetebol da NBA são as competições mais procuradas. No entanto, a partida mais procurada naquele primeiro ano foi o confronto entre Portugal e a Islândia no Euro 2016.
Fonte: Público