Já ouviu falar no Mostbet? Com frequência, influenciadores com milhares de seguidores partilham “stories” nas redes sociais a promover apostas e garantindo um prémio generoso. Problema? Este casino online não é legal. A SIC explica-lhe como funciona esta casa de apostas e os perigos a que, sobretudo, os mais novos estão expostos.
O casino online Mostbet está a ser publicitado no Instagram por criadores de conteúdo digital, também conhecidos por influenciadores. No entanto, a casa de jogos está a operar ilegalmente em Portugal. Há uma queixa no Ministério Público e várias tentativas (falhadas) de bloquear o site.
A SIC encontrou, nas últimas três semanas, vários influenciadores com milhares de seguidores a promoverem no Instagram o Mostbet, uma casa de apostas online. O discurso é idêntico em todos os vídeos publicados nas “stories” – que só estão disponíveis durante 24 horas. Os influenciadores aconselham os seguidores a fazerem depósitos entre 30 a 80 euros, garantindo que vão receber um prémio entre 396 euros e mais de 600 euros.
Além do dinheiro, os influenciadores dizem que “quanto maior for a aposta” mais “bónus e rodadas grátis” podem conseguir.
“Quanto mais jogarem, maior a probabilidade de ganharem”, referem alguns nos vídeos que a SIC encontrou.
Outros influenciadores até sugerem “destinos” para os “ganhos maravilhosos”, como “férias” ou um “pé de meia para o filho”.
Os vídeos, apresentados na reportagem da SIC são, por vezes, acompanhados por imagens de alegadas transferências de dinheiro na aplicação MB Way ou com mensagens de outros utilizadores “satisfeitos” com os ganhos. “Cada aposta, cada vitória” e “uma onda de sorte ao jogo”, dizem nas publicações.
Entre os influenciadores identificados a publicitar o casino ilegal, o “mais conhecido” tem mais de 240 mil seguidores e o “menos” tem ainda assim 25 mil. Apregoam maravilhas, apesar de na internet, o site ser alvo, há já algum tempo, de acusações de burla. Há relatos de pessoas que jogaram, ganharam, mas não receberam o dinheiro.
Com licença atribuída em Curaçau, nas Caraíbas, a ilha do Caribe conhecida pelas offshores e pela facilidade com que autoriza o jogo, e endereço no Chipre, o MostBet costuma ser publicitado como um sítio fácil para ganhar dinheiro extra.
O que dizem os responsáveis?
Contactado pela SIC, o Serviço de Regulação e Inspeção de Jogos (SRIJ), entidade responsável pela atribuição de licenças de jogos e apostas online que é tutelado pelo Ministério da Economia, esclarece que o Mostbet “não dispõe de licença para a exploração de jogos e apostas online em Portugal”.
Nesse sentido, foram feitas “sucessivas notificações aos ISP’s” (prestadores intermediários de serviços em rede) para “bloqueio do site”, entre novembro de 2021 e maio de 2023. Mas o casino online continuou a funcionar. Porquê?
“À medida que os sites vão sendo bloqueados pelos ISP’s, essa entidade, com o objetivo de contornar esses bloqueios, tem vindo a abrir novos sites, acrescentando, por exemplo, um número ou uma letra aos endereços anteriores, continuando, assim, acessíveis em Portugal”, explica o SRIJ à SIC.
Na mesma nota, a entidade responsável garante que apresentou uma “participação criminal” ao Ministério Público. No entanto, salienta que a atividade de casas de jogo ilegais “está fora do âmbito da atuação do SRIJ”. Esta é, aliás, a resposta que dão “às queixas apresentadas pelos utilizadores, assim como no site do SRIJ”.
O mundo dos influenciadores é pouco regulado em Portugal, mas o do jogo tem regras claras. Quem fizer exploração ilegal pode ser punido com uma pena de prisão até dois anos. A SIC tentou – sem sucesso – falar com o Mostbet, assim como com os influenciadores, mas nenhum respondeu ou prestou esclarecimentos.
O vício e a tendência crescente
O número de pessoas a jogar em casinos online tem aumentado “tanto em Portugal como no mundo inteiro”, diz Pedro Hubert, psicólogo do Instituto de Apoio ao Jogador e especialista em dependência do jogo.
Mas essa dependência pode ser agravada ao ser publicitada por influenciadores digitais, pessoas que praticam a “cultura da influência dos pares”, que têm “algum estatuto” e “imagem”.
“Se alguém está na fase do abuso ou da dependência [os influencers] estão a aproveitar-se ainda mais da vulnerabilidade de uma pessoa (…).Eu não saio à noite para ir ao cinema, ir jantar, ir dançar para ganhar dinheiro. O jogo deve ser encarado como recreativo e não como forma de investimento“, afirma.
O especialista alerta, por isso, que as pessoas com “alguma visibilidade” têm de ter mais “consciência ética e moral” e devem informar-se melhor sobre o que é legal.
Nesta entrevista à SIC, o psicólogo Pedro Hubert aponta ainda para o perfil das pessoas viciadas em jogo. São, sobretudo, homens, com 30 anos (uma idade que tem vindo a diminuir), com o 12.º ano de escolaridade e que “procuram sensações fortes”, têm o “gosto pelo dinheiro”, “ansiedade” e “muitas delas são fumadoras”.
“Mudanças de humor”, necessidade de “dinheiro urgente” e isolamento são sinais a que as pessoas mais próximas de possíveis dependentes do jogo devem estar atentas. Aos pais, o psicólogo apela a que estejam particularmente atentos porque os mais novos são alvos cada vez mais frequentes destas práticas.
“Quanto mais cedo tiverem consciência dos sinais, melhor o prognóstico”, afirma.
Quando é que as apostas começam a ser preocupantes? Segundo o psicólogo, quando os jogadores perdedores deixam de pagar as contas, começam a pedir dinheiro emprestado. No caso do mais jovens, pode refletir-se em “roubos aos pais”, “resultados académicos a baixar” e “dívidas de milhares”.
Às pessoas viciadas em jogo, Pedro Hubert deixa uma mensagem: há tratamento, por exemplo, em instituições especializadas e terapias de grupo, em que a família pode fazer parte do processo.
Como denunciar
Caso se cruze com alguma “storie” ou seja vítima do Mostbet, ou outros sites de jogos ou apostas online ilegais, pode denunciar. Pode fazê-lo de duas formas: através de email para o organismo regulador dos jogos e apostas online, o SRIJ (info.srij@turismodeportugal.pt), ou, também por email, junto da Direção-Geral do Consumidor (dgc@dg.consumidor.pt).
Fonte: SIC Notícias
