O Placard, jogo de apostas desportivas à cota de base territorial, nasceu no início de setembro de 2015 e depressa conquistou os apostadores portugueses, tornando-se no terceiro jogo social com maiores receitas brutas a seguir à Lotaria Instantânea e ao Euromilhões. Um ano depois, esta aposta do Departamento de Jogos da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (DJSCML) tem dado bons frutos e promete, de acordo com o vice-provedor da instituição, continuar a dar. Edmundo Martinho falou com A BOLA do passado, do presente e do futuro à margem do Seminário de Apostas Desportivas, promovido pela Corporação Ibero-Americana de Lotarias e Apostas de Estado (CIBELAE) — visa o desenvolvimento dos vínculos entre as diversas Lotarias de Estado — e organizado pelo DJSCML, o qual reuniu em Lisboa membros oriundos de Espanha, França, Brasil, El Salvador, Paraguai e a European Lotteries para abordar as diversas problemáticas das apostas desportivas.
— Um ano de Placard. O balanço continua a ser positivo?
— Diria que sim, que o balanço é fortemente positivo. Quando o Placard foi lançado havia alguma expectativa, natural, em relação ao que era e ao seu desenvolvimento. Veio a confirmar-se, ao longo deste ano, que as expectativas não apenas foram cumpridas, como, de alguma forma, aqueles que eram os objetivos fixados foram superados.
— Tem corrido bem então…
— Tem corrido bem não só do ponto de vista da adesão dos apostadores, como igualmente, e inclusivamente, em relação a alguns receios que existiam, nomeadamente a venda de jogo a menores e alguns riscos de match fixing, os quais, felizmente, não se confirmaram.
— Mas não houve problemas?
— Tivemos um ou dois episódios de venda de jogo a menores que foram resolvidos rapidamente e de forma muito dura. Creio que isso foi, de alguma maneira, exemplar e contribuiu para que hoje não tenhamos relatos alguns de situações desse tipo. O Placard tem, sim, vindo a afirmar-se como um jogo seguro. Aliás, veio incentivar ainda mais a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa a introduzir mecanismos de acompanhamento do jogo, das apostas, da forma como os nossos mediadores disponibilizam o jogo, que não sendo online implica uma relação física direta entre apostador e mediador. Há, portanto, um acompanhamento muito rigoroso. Temos inclusivamente um gabinete que tem como missão formar os mediadores, dar informação, sinalizar e alertar para todas as questões que, obviamente, as apostas desportivas sempre levantam.
NOVIDADES NO INÍCIO DE 2017
— Neste momento há apenas três modalidades desportivas. A oferta vai ser alargada?
— Contamos alargar, sim. A segunda fase do Placard, chamemos-lhe assim, já está decidida, com o alargamento a mais modalidades.
— Quando?
— A partir do inicio do próximo ano vamos ter seguramente novidades.
— Pode levantar o véu?
— Posso falar-lhe de andebol, futsal, hóquei em patins… Será um conjunto de modalidades que tem de ter expressão competitiva, como é óbvio. Queremos aumentar a oferta para os apostadores que entendam apostar ou nos clubes da sua preferência, ou nos clubes que lhes permitam ganhos potenciais mais elevados.
FATIA DESTINADA ÀS FEDERAÇÕES
— Um dos receios que existia prendia-se com a atribuição de licenças a operadores online, se isso poderia ter algum reflexo negativo no Placard. Já foram atribuídas três, duas para apostas desportivas e uma para jogos de casino. Sentiram alguma recessão?
— As vendas do Placard não se ressentiram, mas não lhe sei dizer se, não havendo licenças online, teriam subido mais do que subiram. Não conhecemos as vendas das duas operadoras online, não sei quanto estão a vender, como está a ser o seu sucesso junto dos apostadores. Agora, as vendas do Placard têm mostrado uma consolidação progressiva muito interessante. Não é um crescimento gigantesco, mas é um crescimento sucessivo. Portanto, diria que o Placard não foi afetado de forma direta com a entrada em cena dos operadores online. Continuamos muito satisfeitos. E não nos esqueçamos de uma outra particularidade muto interessante do Placard: o apoio direto que presta às federações dos desportos que abrange. Isso é muito importante também.
— Há uma percentagem atribuída as federações das três modalidades, é isso?
— Sim. Estamos a falar de 3,5 por cento do valor das apostas na modalidade. É um valor muito significativo e que obviamente ajuda as federações a cumprir melhor o seu papel. O Placard, além de contribuir para aquilo que são as missões da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, além de contribuir para o conjunto dos beneficiários dos jogos sociais, ministérios e atividades, como a educação, a segurança social, a saúde, o desporto, além disso ainda acrescenta esta dimensão que permite às federações terem um apoio significativo em termos financeiros.
— Com o futebol à cabeça, calculo.
— Naturalmente. É a modalidade em que as apostas são mais significativas. Mas também o ténis e o basquetebol têm vindo a beneficiar. E estamos a falar de apenas um ano de trabalho. São valores, penso eu, importantes para o desenvolvimento do trabalho das federações. Contribui para o fomento do desporto, para a prática da atividade desportiva e isso é também muito importante para nós.
A CAMINHO DO ONLINE
— No início, não era ideia do Departamento de Jogos apostar numa plataforma online. Essa posição mudou?
— Neste momento, a posição da Santa Casa é integrar uma sociedade, porque a exploração dos jogos onlineestá apenas circunscrita a sociedades anónimas, coisa que a Santa Casa não é. A Santa Casa já tem autorização da tutela, como definem os seus estatutos, para poder integrar uma sociedade anónima que se dedicará à exploração do jogo online. E sim, vamos avançar com um pedido de licença em conjunto com outras entidades do setor da economia social.
— E já é possível avançar uma data?
— Ainda não lhe sei dizer uma data. Estamos, nesta altura, na fase de constituição da sociedade, temos tudo preparado, estamos a ultimar detalhes. É uma sociedade que vai funcionar completamente separada da Santa Casa. A Santa Casa será um dos acionistas, entre outros. Mas que vai obviamente estar também presente no mercado das apostas desportivas online.
— Com um conjunto de ofertas mais abrangente?
— Ainda estamos a estudar. Estamos a tentar perceber até onde podemos ir em termos de oferta, mas ainda é um bocadinho prematuro falar disso. Ainda estamos na fase preparatória.
EUROMILHÕES SEGURO
— O Euromilhões sofreu alterações. Os valores das apostas aumentaram e foi-lhe associado o novo jogo, o M1lhão. Qual foi a reação do mercado?
— Não houve até agora qualquer impacto negativo por força do aumento da aposta. Pelo contrário. Mas diga-se em abono da verdade que este aumento também coincidiu com um super jackpot que tem vindo a acumular e que já atingiu os 166 milhões de euros, um valor que é sempre um estímulo adicional para que as pessoas apostem e invistam no Euromilhões. É por isso uma altura atípica para fazer essa análise. O que posso dizer é que a alteração correspondeu à nossa expectativa e que não houve qualquer quebra por força disso.
TENDÊNCIA DE SUBIDA
— 2015 foi um ano recorde no que se refere a receitas. Pode esperar-se um desempenho ainda melhor este ano?
— A trajetória é de crescimento. Até porque temos o Placard o ano inteiro e em 2015 só o tivemos alguns meses. Até agora, todas as indicações que temos vão nesse sentido. E sobretudo é bom não esquecer que a grande fatia dos resultados dos jogos destina-se ao apoio publico. Mais de 70 por cento dos resultados dos jogos são para distribuir por aquilo a que chamamos os beneficiários — ministérios, Segurança Social, Instituto do Desporto, o combate às dependências, as políticas para a igualdade e cidadania, a saúde, o Desporto Escolar… Quanto mais sucesso tiverem os jogos sociais, maior é a devolução que fazemos à sociedade.
Sabia que…
— O Placard deixou de ser o jogo social mais recente, depois do lançamento, em setembro último, do M1lhão.
— O Placard, com um ano de vida, é o terceiro jogo social mais vendido atrás da líder Lotaria Instantânea e do Euromilhões.
— O mês de abril foi aquele em que o Placard obteve melhores resultados, atingindo quase 40 milhões de euros. Julho e agosto, meses do defeso no futebol, foram os mais fracos, notando-se em setembro assinalável recuperação.
— O valor médio gasto por cada apostador cifra-se nos 89 euros.
— Existem 423 mil apostadores ativos.
— Mais de 950 mil pessoas já experimentaram o Placard.
— O sábado é o melhor dia da semana. Quer em número de apostadores ativos, quer em aquisição de novos apostadores.
— O futebol é, das três modalidades, a que reúne a larga maioria das preferências dos apostadores: 91 por cento.
— O resultado final (1, x, 2) é a aposta preferida – 73 por cento.
— O jogo com maior valor de apostas, mais de um milhão de euros, foi a final do Europeu entre Portugal e França.
— Em Portugal, o último Benfica-Porto ultrapassou os 700 mil euros de apostas, liderando o ‘ranking nacional’.
Fonte: A Bola