Portugal: A polícia desmantela uma rede russa de branqueamento de capitais que operava no setor do futebol

Ontem, durante a Operação Matrioskas, a Polícia Judiciária portuguesa, com o apoio da Europol, desmantelou um grupo criminoso organizado de caráter multinacional, composto maioritariamente por cidadãos russos, que se...

Ontem, durante a Operação Matrioskas, a Polícia Judiciária portuguesa, com o apoio da Europol, desmantelou um grupo criminoso organizado de caráter multinacional, composto maioritariamente por cidadãos russos, que se dedicava ao branqueamento de capitais através do setor do futebol.

Em atividade desde, pelo menos, 2008, esta rede criminosa é considerada uma célula de um importante grupo mafioso russo, diretamente responsável pelo branqueamento de vários milhões de euros em numerosos países da UE, a maior parte dos quais, segundo se crê, provém de atividades criminosas cometidas fora do espaço comunitário.

O modus operandi conhecido do grupo consiste em identificar os clubes de futebol da UE em dificuldades financeiras e, em seguida, infiltrá-los entre os patrocinadores que fazem doações ou investimentos de curto prazo muito necessários.

Depois de ganharem confiança através dos donativos, esses mesmos mecenas orquestram a compra dos clubes. A compra desses clubes é facilitada por indivíduos que operam como intermediários de redes opacas e sofisticadas de sociedades gestoras de participações sociais, invariavelmente propriedade de empresas de fachada registadas no estrangeiro e em paraísos fiscais. Assim, os verdadeiros proprietários e aqueles que, em última análise, controlam o clube permanecem sem identificação, tal como a verdadeira origem dos fundos utilizados para os comprar.

Uma vez que os clubes estejam sob o controlo da máfia russa, o vasto âmbito das transações financeiras, os fluxos de dinheiro transfronteiriços e as lacunas de governação permitem que os clubes sejam utilizados para branquear dinheiro sujo (geralmente através da sobrevalorização ou subvalorização de jogadores no mercado de transferências e em acordos de direitos televisivos), bem como para atividades de apostas (tanto para a obtenção de receitas ilegais devido à manipulação de resultados como para fins de puro branqueamento de capitais).

Utilizando este modelo de atuação, em julho de 2015, após uma série de doações e investimentos, o grupo criminoso adquiriu um clube que competiu na principal liga de futebol portuguesa até enfrentar dificuldades financeiras em 2012, que o levaram a ser descido para divisões inferiores.

A investigação teve início devido à existência de fortes indícios de alerta contra os suspeitos. As suspeitas foram levantadas, em especial, pelo elevado nível de vida de que os suspeitos desfrutavam quando utilizavam bens de elevado valor registados em nome de terceiros. Importaram grandes quantias de dinheiro vivo da Rússia para Portugal, em violação da regulamentação da UE em matéria de dinheiro vivo, recorrendo a transportadores de valores, e criaram e utilizaram redes opacas de empresas de fachada offshore destinadas a preservar a identidade dos seus beneficiários efetivos (utilização de offshores e paraísos fiscais).

Desde então, foram recolhidos elementos de prova significativos que demonstram que este grupo criminoso funciona como uma associação criminosa que pratica branqueamento de capitais, fraude fiscal, corrupção e falsificação de documentos, preparando simultaneamente várias ações criminosas transnacionais.

O Diretor do Grupo de Informação Financeira da Europol, Igor Angelini, declarou: “A utilização abusiva de sociedades offshore para dissimular a propriedade efetiva de ativos continua a ser um dos principais desafios para o êxito das investigações na área financeira. Estas barreiras também frustram as tentativas dos investigadores de descobrir a origem do dinheiro, muitas vezes criminoso, que é reinvestido em setores propensos a este tipo de infiltração. O setor do futebol apresenta vulnerabilidades relacionadas com a sua estrutura, modelo financeiro e cultura que podem ser exploradas pelos criminosos.”

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A operação de hoje, que envolveu mais de 70 agentes da polícia portuguesa e contou com o apoio no local de peritos do Grupo de Inteligência Financeira da Europol, foi o resultado de mais de um ano de uma investigação criminal internacional complexa e exigente.

Como resultado, foram detidos três membros importantes desta rede de criminalidade organizada e foram efetuadas buscas em 22 casas e empresas, incluindo 4 grandes clubes de futebol, escritórios de advogados e de contabilidade. Foram apreendidos vários milhares de euros em numerário (a maior parte em notas de 500 euros).

O destacamento de uma equipa da Europol em Leiria, assistiu os agentes da Polícia Judiciária com análises de informações em tempo real e apoio técnico, o que ajudou a identificar ligações transnacionais relacionadas com crimes graves e organizações criminosas na Áustria, Estónia, Alemanha, Letónia, Moldávia e Reino Unido.

Fonte: Europol

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