Macau: China Daily – Campanha anticorrupção fez “perder brilho” à indústria do jogo de Macau

O principal jornal oficial chinês de língua inglesa, o China Daily, publica hoje um artigo em que volta a associar diretamente o declínio das receitas de jogo em Macau...

O principal jornal oficial chinês de língua inglesa, o China Daily, publica hoje um artigo em que volta a associar diretamente o declínio das receitas de jogo em Macau à campanha contra a corrupção, lançada por Pequim.

“A Las Vegas da Ásia começou a perder algum brilho desde 2014 (…), quando o combate contra a corrupção e extravagância, por parte de Pequim, aliado à economia da China em `corda bamba`, assustou os grandes apostadores, afastando-os para outros destinos de jogo regionais”, refere o China Daily, destacando que o Camboja surge como “um rival emergente”.

As receitas do jogo de Macau — principal motor da economia — encetaram em junho de 2014 uma trajetória descendente, com o mês de agosto a colocar termo a 26 meses consecutivos de quedas anuais homólogas.

Essa curva descendente — a mais longa de sempre — tem vindo a ser imputada por analistas a um `cocktail` de fatores em que os efeitos da campanha anticorrupção lançada por Pequim surgem à `cabeça`. No entanto, tal associação por parte da imprensa oficial chinesa tem sido muito pontual.

No final de 2014, o próprio China Daily tinha feito essa ligação causa-efeito — entre o declínio das receitas de jogo e a campanha anticorrupção em curso na China desde que o Presidente, Xi Jinping, assumiu a chefia do Partido Comunista — e, aproximadamente dois anos depois, mantém a mesma associação.

No artigo intitulado “O jogo de Macau pela recuperação”, em que refere que os “casinos `despejam` milhares de milhões de dólares na economia local, prometendo reverter a recente contração, o China Daily fala do “`cluster` de esplêndidos novos casinos” que colocam em evidência “os esforços dos operadores para atrair os jogadores de volta”, destacando serem “elevadas as expetativas relativamente à recuperação da indústria do jogo”.

Macau é o único lugar na China onde o jogo em casino é legal.

O antigo enclave português cimentou o seu estatuto como capital mundial do jogo em 2006, quando as suas receitas dos casinos `bateram` pela primeira vez as de Las Vegas.

O jogo figura como o principal pilar da economia de Macau — contribuindo para mais de 75% das receitas da Região Administrativa Especial.

Pese embora o declínio, só este ano abriram dois novos casinos — da Wynn e da Sands, duas das seis operadoras. Já a MGM deve estrear-se na `strip` do Cotai (zona de casinos entre as ilhas da Taipa e de Coloane) no próximo ano, e a SJM (Sociedade de Jogos de Macau) em 2018.

Mesmo com uma forte queda de 34,3% em 2015, as receitas de jogo de Macau ainda são três vezes superiores às de Las Vegas, seis vezes superiores às de Singapura e dez vezes superiores às da Coreia do Sul e às Filipinas, segundo salienta o China Daily, citando o chefe do Executivo de Macau, Fernando Chui Sai On.

Na semana passada, a Fitch prognosticou uma diminuição de 5% das receitas dos casinos para o cômputo de 2016.

Relativamente a uma efetiva recuperação da principal indústria de Macau, a agência de notação financeira considera improvável uma “recuperação em V”, isto é, que à forte contração registada suceda uma forte recuperação.

Além disso, estimou mesmo que a indústria de jogo de Macau estará a aproximadamente a uma década de voltar a atingir o valor das receitas anterior ao início da `crise`.

Já o governo mantém as suas contas inalteradas. Embora seja tradicionalmente conservador na elaboração do Orçamento, ainda em junho, o secretário para a Economia e Finanças, Lionel Leong, reiterou a previsão de que o setor do jogo vai fechar 2016 com receitas de 200.000 milhões de patacas (22.447 milhões de euros), valor que traduziria uma diminuição de 13,35% face ao ano passado.

Arrastada pelo desempenho do setor, a economia de Macau encontra-se em queda desde o terceiro trimestre de 2014, ano em que, pela primeira vez desde a transferência do exercício de soberania de Portugal para a China, em 1999, o Produto Interno Bruto (PIB) registou uma diminuição (-0,9%).

Em 2015, o PIB caiu 20,3%.

Fonte: RTP Notícias

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