Negócio “bate-ficha”: DAP-MA
O termo “bate-ficha” faz parte da linguagem quotidiana de Macau em referência a um tipo de negócio existente apenas nos casinos deste território. O termo não faz parte da legislação, mas existe nos registos da polícia de investigação, pois trata-se de um negócio que não é legalmente regulado ou tributado. A expressão original remete para o cantonês (dap-ma) e o termo português “bate-ficha” foi primeiramente utilizado pela polícia portuguesa.
Este termo significa “lidar” com fichas, e um grande volume de fichas revela poder e lucro. Assim, o negócio “bate-ficha” significa simplesmente o rolamento ou troca de fichas entre os clientes (jogadores) e os roladores de fichas (dap-ma-chai). Os roladores de fichas muitas vezes trazem consigo grandes quantidades de “fichas mortas” (fichas não pagáveis) quando andam pelas salas de jogos a fim de procurar clientes. Eles trocam as “fichas mortas” por fichas correntes, pagáveis nas caixas especiais existentes nas salas, ou com os seus clientes. Em contrapartida, os roladores de fichas recebem uma comissão por esta espécie de intercâmbio.
A STDM contratualiza uma das suas salas de jogo com um operador, o qual é a única pessoa que efetivamente dispõe de uma conta com a STDM, mas pode escolher os seus próprios parceiros para partilhar o investimento na sala de jogo. De acordo com um contrato de costume, ele tem que comprar mensalmente alguns milhões de “fichas mortas” à STDM. Digamos, por exemplo, se tiver que comprar 4 milhões de dólares de Hong Kong (HKD) em “fichas mortas” à STDM, vai precisar de pelo menos 100 clientes. Cada um destes clientes terá de jogar HKD 40.000 por mês, a fim de absorver todas as “fichas mortas”.
Uma vez que a quantidade de “fichas mortas” é substancial, o operador da sala de jogo consegue atrair mais clientes através da criação do negócio “bate-ficha”, que inclui titulares de conta, chefes de equipa e roladores de fichas.
O operador convida pessoas interessadas em fazer parte do negócio – geralmente amigos ou parentes, com avultadas quantias de dinheiro para abrir uma conta na sua sala jogo – designados por titulares de conta ou intermediários. Recebem comissões pela quantidade de “fichas mortas” trocadas por fichas pagáveis, nas caixas do casino.
Sendo o poder de um homem limitado, o titular de conta convida ou emprega os seus amigos ou ” irmãos tríade” para executar o negócio “bate-ficha”. Noutras palavras, os seus amigos ou “irmãos tríade” trabalham como agentes de vendas e ganham uma comissão paga pelo titular da conta. Estes comissionistas também trocam as “fichas mortas” por fichas correntes ou dinheiro dos clientes, são chamados os homens “bate-Ficha” (DAP-ma-chai) ou roladores de fichas. Existem vários milhares de roladores de fichas nos casinos de Macau, tanto homens como mulheres. Algumas centenas podem trabalhar a tempo integral e os restantes a tempo parcial.
Uma vez que a STDM não tem responsabilidade no negócio, os operadores das salas de jogo, os titulares de conta e os roladores de fichas não são funcionários da STDM. Os serviços dos roladores de fichas podem ou não ser utilizados pelo titular de conta, mas ganham a vida através das comissões provenientes da troca de “fichas mortas” por fichas correntes.
Quando as suas operações são rentáveis, podem ascender a chefes de equipa de roladores de fichas. Além disso, os operadores das salas de jogos, ou seus parceiros, podem ser titulares de conta e estabelecer seu próprio negócio “bate-ficha”. Mesmo quando alguém enfrenta problemas, o sistema não colapsa pois está dividido em células separadas com diferentes titulares de conta e chefes de equipa. Cada titular de conta tem o seu próprio negócio “bate-ficha”, independente dos outros.
Esta estrutura organizacional reflete a ideia de venda em pirâmide e dispersão de risco. Além disso, duas equipas com diferentes titulares de conta que trabalham na mesma sala de jogo podem prestar ajuda entre si, emprestando dinheiro sob um acordo mútuo sobre como partilhar a comissão. Noutras palavras, os titulares de conta podem organizar-se em cartéis.
Segue-se um breve exemplo para clarificar o funcionamento deste negócio: Consideremos que o operador da sala de jogo X sabe que um dos seus amigos (Senhor Y) está interessado na gestão do negócio “bate-ficha” e dispõe de capital suficiente para o efeito. O operador pedirá ao Senhor Y para abrir uma conta no balcão de câmbio de fichas na sala de jogo X e, digamos, que a comissão por cada HKD 10.000 de “fichas mortas” é HKD 600. Cada conta possui um número e o número da conta para o Senhor Y é 29. O senhor Y torna-se o titular da conta deste negócio. Em seguida emprega alguns amigos ou “irmãos tríade” como roladores de fichas.
O montante mínimo de “fichas mortas” que podem ser compradas a partir do balcão é HKD 100.000, sendo geralmente conhecido como tabuleiro de “fichas mortas”. Por exemplo, o Senhor Y utiliza dinheiro ou crédito para reservar HKD 2.000.000 de “fichas mortas” (vinte tabuleiros) registados na sua conta (nº 29). Cada um dos roladores de fichas terá HKD 100,000 de “fichas mortas” para andar em torno da sala de jogo em busca de novos jogadores ou dos seus próprios clientes para trocarem dinheiro ou fichas correntes pelas suas “fichas mortas”. Assim que os roladores de fichas tenham trocado todos os HKD 100.000 de “fichas mortas”, regressam ao balcão e usam os HKD 100,000 de fichas correntes para comprar outro tabuleiro de “fichas mortas” através da conta 29.
No final de cada mês, a transacção de “fichas mortas” na conta 29 é calculada. Por exemplo, 100 tabuleiros de “fichas mortas” foram vendidos a partir da conta 29 durante o mês, então a comissão para o Senhor Y será de HKD 600.000. O Senhor Y, titular da conta, poderá optar por pagar aos roladores de fichas salários fixos a cada mês ou uma comissão por si definida.
Os clientes do negócio “bate-ficha” são principalmente de Hong Kong, China Continental e Taiwan. Os roladores de “fichas mortas” fornecem aos seus clientes passagens de avião gratuitas, acomodações e refeições. Também podem dar-lhes conselhos sobre os jogos.
Por vezes, os roladores de fichas praticam descontos nas trocas de “fichas mortas” por fichas regulares ou dinheiro. Os clientes podem trocar as “fichas mortas” por fichas correntes ou dinheiro com os roladores de fichas sempre que desejarem parar de jogar.
Além disso, os roladores de fichas protegem os seus clientes dos “parasitas” (pa-chai) existentes no interior dos casinos. Os “parasitas” são pessoas que incomodam os jogadores com “dicas e palpites” e pedidos de fichas quando os jogadores ganham no jogo.
Ocasionalmente, os seus clientes podem querer adquirir drogas e serviços de prostituição, nestes casos os roladores de fichas podem providenciar as melhores ofertas, com ou sem comissão adicional.
Ainda que seja possível aos jogadores VIP abrirem uma conta directamente com a sala de jogo, torna-se difícil dado que os operadores geralmente estão interessados em construir o seu próprio negócio “bate-ficha” com os titulares de conta seus amigos ou “irmãos tríade”, a fim de sere mais facilmente controlado e gerido.
O operador tem vários argumentos para os clientes abrirem uma conta individual na sua sala jogo, que geralmente incluem apostas insuficientes, ou a necessidade de manter uma conta por um longo período de tempo. Na verdade, a maioria dos grandes jogadores escolhe os serviços dos roladores de “fichas mortas” por conveniência, companheirismo e proteção.
A “subcontratação” das salas de jogos e o estabelecimento do negócio de “bate-ficha” gera mais fluxos de caixa para os casinos porque os jogadores, quando acompanhados pelos roladores de fichas, são frequentemente estimulados a jogar e podem conseguir créditos adicionais (na forma de fichas regulares ou “fichas mortas”) a partir dos próprios roladores de fichas. Desta forma, a STDM reduz os seus custos administrativos e de marketing, aumentando o número de clientes e/ou o montante apostado.
No entanto, não havendo qualquer legislação aplicável a este negócio lucrativo “bate-ficha” esta lacuna é explorada por tríades, florescendo atividades de agiotagem, lavagem de dinheiro e operações de evasão e fraude fiscal no interior dos casinos de Macau.
O envolvimento das triades nos casinos de Macau.
King, Skolnick e Zendzian comprovam a longa história de envolvimento do crime organizado em casinos, e Macau não é excepção. Antes do acordo das salas de jogos o negócio “bate-ficha” não existia nos casinos de Macau. Nesse tempo o poder das sociedades tríade encontrava-se condicionado, pois não tinham acesso administrativo direto aos casinos e os seus proveitos eram circunscritos ao que obtinham da agiotagem e de outras atividades ilegais complementares como a prostituição, tráfico de drogas e contrabando.
Durante as décadas de 1960 e 1970, sob a estrutura de casino centralizado, organizaram-se marginalmente diferentes sociedades tríades, mas sem territórios específicos dentro dos casinos. Porém, com o advento do acordo das salas de jogos (referido em textos anteriores) e o estabelecimento do modelo de negócio “bate-ficha” na década de 1980, foi criado um espaço “sem lei” para as tríades operarem no interior dos casinos.
Com acesso privilegiado e aumento da riqueza, diferentes sociedades tríade começaram a estabelecer os seus territórios nos casinos, e as mais fortes monopolizaram o negócio “bate-ficha” no fim dos anos de 1990. As três maiores sociedades tríade em Macau nas décadas de 1980 e 1990 foram o 14K, Wo On Lok (também conhecida como Shui Fong) a Wo Shing Yee, e o Dai Huen Chai foi outro grupo activo de criminosos em Macau.
A maioria dos operadores das salas de jogo são homens de negócios abastados, alguns dos quais alegadamente avolumaram rendimentos no passado a partir de negócios ilegais. Não são, necessariamente, membros das tríades, embora alguns possam estar aposentados ou inativos. O principal critério dos operadores das salas VIP é ter um imenso capital, para além de uma boa relação com o STDM, as tríades e, também, com a polícia.
Em virtude do negócio “bate-ficha” não estar regulado por qualquer enquadramento legal, funciona como um “mercado negro” arriscado, vulnerável e imprevisível.
Frequentemente os intervenientes neste negócio enfrentam dificuldades na recuperação de dívidas evitando a procura de protecção jurídica em virtude das fragilidades legais existentes. Deste modo, os operadores de salas de jogo convidam regularmente líderes das tríades a serem gestores de conta e dirigirem o negócio “bate-ficha” nas suas salas jogo. Esses líderes recrutam amiúde os seus próprios membros ou “irmãos da tríade” para exercerem funções como roladores de fichas. As funções das tríades no negócio “bate-ficha” são as que se seguem:
A – Seguranças ou protetores nas salas de jogo
Uma vez que o número de clientes determina o rendimento do negócio “bate-ficha”, existe uma forte concorrência entre as diferentes equipas de roladores de fichas. Sem o músculo das tríades, não conseguem competir para angariar novos clientes e arriscam-se a perder os que já têm para os seus concorrentes.
Dificilmente se pode sobreviver neste negócio sem a garantia das posições na sala de jogos assegurada por proteção privada. Com efeito, as tríades são regularmente recrutadas pelos operadores para proteção das salas de jogos, intervindo na estabilização do mercado, e, se for necessário, fazendo uso da violência e outros expedientes coercivos para salvaguardar os benefícios de seus protegidos, garantindo posições e compromissos de mútuo auxilio.
Os roladores de fichas protegem igualmente os seus próprios clientes dos chamados “penduras” que os incomodam e abordam para pedir gorjetas quando estes ganham um jogo. Por vezes tais “parasitas” são mal sucedidos quando pedem fichas e podem recorrer à violência ou à ameaça sobre os jogadores. O rolador de fichas poderá também fornecer serviços “auxiliares”, tais como drogas, prostituição e agiotagem.
Além de fornecerem proteção privada, as tríades muitas vezes executam o negócio “bate-ficha” em salas de jogo. Normalmente, o operador da sala concede o negócio “bate-ficha” apenas a uma sociedade tríade, por exemplo, a 14K, podendo, contudo, permitir que duas sociedades tríade, a 14K e a Fong Shui, executem o negócio na mesma sala de jogo.
Se, por exemplo, a 14K (protetor principal) é mais fraca em força ou influência do que a facção da tríade dominante, por exemplo a Shui Fong, o operador a fim de evitar conflitos pode permitir que ambos os grupos tríade operem na sua sala, pagando uma comissão mais elevada ao principal protector tríade (a 14K), geralmente o dobro.
B – A resolução de litígios
Devido à conjugação de uma área geográfica reduzida, população numerosa e dinâmicas sociais circunscritas a uma comunidade pequena, em Macau as tríades tornaram-se parte do contexto sociocultural deste território, onde é uma prática tradicional a procura de assistência junto das tríades nas resoluções de litígios e proteção privada, em substituição das autoridades públicas e policiais.
No passado os macaenses tinham pouca confiança nos órgãos policiais sob administração portuguesa. As pessoas, na sua vasta maioria, deparavam-se com dificuldades em assimilar os principais traços legais que regulavam a sociedade, uma vez redigida em português a maioria da legislação. Outrossim os mecanismos legais de resolução de litígios se afiguravam frequentemente morosos, dispendiosos, ineficazes e burocráticos.
As vias legais estavam também naturalmente vedadas a atividades ilegítimas, como a agiotagem e as apostas, pelo que, deste modo, as tríades prestavam serviços reais na resolução de conflitos entre as diferentes salas de jogos e as diferentes equipas de roladores de fichas de uma forma mais eficiente do que as autoridades públicas.
C – O consumo massivo de fichas mortas
Crê-se que as sociedades tríade são altamente estruturadas e organizadas, com muitos membros disponíveis para formar uma grande pirâmide de negócio “bate-ficha” fornecendo muitos agentes de vendas às salas de jogo. Estas tríades não hesitam em recorrer a meios ilícitos para o intercâmbio de fichas mortas. Porquanto muitos milhões deste tipo de fichas têm de ser absorvidas a cada mês pelas salas de jogo, os operadores permitem que as tríades as troquem através de dois canais clandestinos, ou seja, o troca forçada e a agiotagem.
1 – A troca forçada
Estamos perante uma troca forçada quando o cliente joga com fichas regulares na sala de jogos e o rolador de fichas mortas substitui essas fichas regulares, antes ou no momento da aposta, por fichas mortas, sem o seu consentimento. Tecnicamente, o cliente não perde nada porque o valor das fichas regulares e o das fichas mortas é o mesmo. No entanto, por vezes, pode daí resultar um foco de tensão. Geralmente os membros das tríades ajudam a resolver esse eventual conflito.
2 – Agiotagem
A agiotagem ou usura é ilegal em Macau. Porém, não havendo quadro legal regulador do negócio “bate-ficha” os roladores de fichas tiram partido desta lacuna para explorar actividades agiotas, as quais geram lucros atraentes.
Usualmente emprestam dinheiro aos seus clientes através fichas mortas. Raramente o fazem em numerário, ficando por isso menos expostos a denúncia e detecção. As tríades estão envolvidas no negócio da agiotagem, pois é muito lucrativo e podem facilmente recrutar potenciais mutuários dissimulados de roladores de fichas.
Com efeito, não há uma distinção clara entre roladores de fichas, agiotas e parasitas, na medida em que todos dizem estar no negócio “bate-ficha”, a fim de evitar a violação da lei. De facto, pouco há que as autoridades policiais possam fazer para deter a agiotagem uma vez que não há norma legal habilitante que permita deter os roladores de fichas.
Os roladores de fichas também optam deliberadamente por violar a lei pois o risco de detenção e sanção é baixo. Tratando-se a agiotagem de um negócio ilegal onde não existe contrato legal que proteja os direitos dos credores e devedores, permanece bastante apetecível ao controlo das tríades, com recurso a diversos expedientes coercivos e opacos tais como extorsões, assaltos, redes de informadores, delatores, clientes, parceiros e empregados sem escrúpulos.
Perante este contexto marcado por assinaláveis vulnerabilidades legais e lacunas no exercício da autoridade dos poderes públicos, a violência é muitas vezes utilizada como o recurso mais eficaz na cobrança de dívidas.
As salas VIP de Macau.
Os casinos em todas as jurisdições de jogo têm de lidar com dois segmentos de jogadores: importantes (“jogadores VIP”) e jogadores regulares (“clientes do mercado de massas”). Os jogadores VIP são preservados em alguns casinos em virtude dos montantes substanciais de dinheiro que estão dispostos a apostar, mas podem ser problemáticos pela volatilidade do desempenho, o risco de dívidas incobráveis e os custos envolvidos nas ofertas de restauração. Dependendo da jurisdição, os jogadores VIP podem exigir a reserva de quartos de hotel luxuosos e comodidades de alta qualidade para si e suas comitivas. Viaturas de luxo e outros “privilégios” que requerem apoio especializado e um elevado volume de tempo e atenção da direção, amiúde em regime de exclusividade.
A abordagem de Macau em relação aos seus jogadores VIP é única, resultando numa situação onde efetivamente existem dois sistemas nos casinos da sua jurisdição: o sistema VIP e o sistema “mercado de massas”. Estes dois sistemas não só operam de forma diferente, como também são regidos por diferentes poderes sociais e económicos. Assim, para analisar ou prever a evolução da indústria dos casinos de Macau, os dois sistemas devem ser abordados separadamente.
O estilo operacional do sistema de mercado de massas da indústria dos casinos tradicionais de Macau não é muito diferente do que encontramos na generalidade dos casinos licenciados em qualquer jurisdição, mas esse não é o caso das suas salas VIP. Muitos dos elementos do sistema VIP de Macau podem ser encontrados em outros mercados de jogo, tais como “fichas mortas”, representantes de clientes, comissões para operadores “junket”, etc., mas apenas encontramos todas estas características reunidas na oferta de jogo VIP em Macau.
O objetivo deste relatório é analisar como as salas VIP emergiram e evoluíram enquanto principal fonte de receitas dos casinos de Macau desde a década de 1980, e como as práticas destas salas estão ameaçadas pela nova concorrência que surgiu em Macau desde a transferência de soberania de 1999, e a aprovação da nova lei de jogos de 2001.
Génese das salas VIP e dos casinos modernos em Macau.
No século XVI, Macau foi separada da China e tornou-se um importante centro de comércio entre a Europa e a China sob administração Portuguesa. Na época, a área de terra de Macau era de menos de 10 quilómetros quadrados e havia uma população de cerca de 40.000 pessoas. Macau era tão pequeno que não poderia ser autossuficiente, por isso teve que estabelecer laços económicos com áreas vizinhas. Muito antes de Hong Kong ser fundada, Macau serviu como entreposto comercial (China-Europa) e tornou-se a principal base económica para o enclave. Depois de 1847, quando a China cedeu Hong Kong aos britânicos, quase substituiu na totalidade Macau como porta de comércio internacional.
Macau teve que encontrar outras estratégias para sobreviver. Uma dessas estratégias era o jogo. O principal mercado de jogo era Hong Kong, bem como a vizinha Guangdong, província da China continental. Por outro lado, o governo Português de Macau tinha legalizado o jogo em 1840, e o governo britânico de Hong Kong tornou o jogo oficialmente ilegal na década de 1870. Este contexto proporcionou um mercado estável e confiável para a indústria dos casinos de Macau. Naquela época, o mercado de Hong Kong era grande e rico o suficiente para sustentar Macau. Assim, enquanto Hong Kong capturou o papel de Macau como um centro de comércio internacional e se tornou cada vez mais rica, Macau tornou-se de facto a sua “cidade do pecado”, a fim de sustentar a sua própria economia.
Ao longo de séculos Macau desenvolveu-se e cresceu territorialmente ao conquistar terra ao mar, massificando a imigração da China Continental. No século XX, com o crescendo da população macaense, tornou-se cada vez mais premente o crescimento da indústria de casinos para sustentar a sua base populacional, sendo assim vital atrair um maior número de jogadores do exterior. Porém, Macau, no século XX, não era um destino turístico atraente, não havendo deste modo muito potencial para expandir a indústria de casino e atrair clientes do mercado de massas, pelo que o maior foco de orientação estratégica foi inevitavelmente direcionado para o negócio das salas VIP.
Até 2000, e já no novo milénio, os casinos da concessionária do monopólio em Macau, a STDM, sofriam de uma evidente escassez de investimento de capital e apresentavam diversas outras características físicas e operacionais como herança do monopólio das últimas quatro décadas. Em comparação com a generalidade dos casinos de qualquer outra jurisdição, a qualidade das instalações do casino e do casino-hotel em Macau, em 2000, era decepcionante. O emblemático casino-hotel O Lisboa – construído na década de 1970 – tinha apenas sido objeto de um reinvestimento e manutenção limitados durante as três décadas subsequentes. Os outros casinos operados pela STDM variavam entre a aparência sórdida e corriqueira.
Toda a indústria de casino de Macau, a partir da transferência em 1999, aparentava pouco interesse no desenvolvimento de qualquer negócio do mercado de massas que já estava entrando à sua porta. Algumas práticas nas principais salas do casino, como concessionários que tomam “chá de dinheiro” e a atitude geral do staff para com os clientes, também refletiu a falta de uma cultura orientada para o cliente. As slot-machines eram praticamente inexistentes nos casinos da STDM e as que existiam eram antiquadas e proveniente de um número limitado de fabricantes. A quota de mercado minúscula para slot-machines em Macau estava, pelo menos em parte, relacionada com a falta de interesse em disponibilizar máquinas de jogos de um mínimo de qualidade aos clientes da concessionária. Finalmente, os casinos de Macau, no final de 1990, sofriam com a presença visível de agiotas e prostitutas, e a indústria de casino foi alvo de batalhas intestinas entre tríades que disputavam o controlo das salas VIP lucrativas.
Com limitado interesse e capacidade em desenvolver uma indústria de casino atrativa aos turistas do mercado de massas, a ênfase da STDM foi ampliar o número de jogadores substanciais (o equivalente chinês de “high rollers”), o que mais tarde contribuiu para que se tornasse no centro do jogo das sala VIP. De permeio, novas técnicas de marketing de casino foram desenvolvidas, um pouco acidentalmente, por homens desempregados ou em situação economicamente frágil, que ao longo do tempo se tornaram um fator importante para a evolução da indústria do jogo em Macau. Em chinês, esses homens são chamados de Jin-Ke, onde “jin” significa literalmente “introdução” e “ke” significa “clientes”. Os Jin-Ke sairiam em busca de jogadores de cidades vizinhas com o objetivo de convidá-los para os casinos de Macau. Na segunda metade do século XX, como a indústria de casino de Macau cresceu, mais Jin-Ke foram necessários para trazer mais jogadores para Macau.
Quando os primeiros Jin-Ke introduziram clientes no casino, foram pagos pelos casinos, mas as condições de pagamento não foram comercialmente fixadas. Aparentemente, os primeiros Jin-Ke não foram pagos com base no montante de dinheiro jogado pelos clientes que introduziram, nem pelo número de clientes introduzidos. No entanto, esta nova “carreira” foi um elemento institucional primitivo que precedeu o sistema contratual das salas VIP de hoje.
A súbita evolução deste sistema ocorreu em 1971 quando a STDM abriu o Casino Lisboa. O Lisboa criou um efeito “tenho que ver” que atraiu muito mais residentes de Hong Kong a visitar Macau por ferry e desfrutar das ofertas do novo casino. Os terminais de ferry em ambas as margens do Delta/Rio das Pérolas ficavam diariamente lotados e os lugares nas embarcações manifestamente escassos. Nos períodos de maior afluência, o preço em vigor dos bilhetes era substancialmente maior do que o valor facial, criando oportunidades para os “revendedores” de bilhetes. Isto atraiu “candongueiros” que se reuniam em ambos os terminais para inflacionar os preços dos bilhetes que um grande número de visitantes estava disposto a pagar (ou seja, os referidos “revendedores” compravam os bilhetes, na bilheteira, ao preço oficial e depois revendiam-nos aos passageiros a preços inflacionados). Obviamente, esta prática não era aceitável, quer para a empresa de ferry quer para o casino, ambos operados pela STDM.
A solução veio a ser sugerida pela liderança da STDM, que convocou uma reunião com os “revendedores” de bilhetes e lhes ofereceu uma alternativa: Se estes cessassem as suas atividades especulativas e abandonassem os terminais de ferry, a STDM viabilizaria a sua atividade no interior dos casinos, o que acabaria por ser muito mais rentável do que o tráfico de bilhetes. O entendimento proposto foi aceite: deixaram os terminais de ferry e foram para os casinos. Entretanto, o chamado sistema de “fichas mortas” já tinha sido implementado pela STDM, de modo que os antigos “revendedores” de bilhetes foram convidados a envolver-se com o negócio da revenda de fichas mortas ou “rolamento de fichas” dentro dos casinos.
Como funciona o negócio das “fichas mortas” dento de um casino?
O revendedor de fichas mortas dirige-se a uma caixa especial do casino, que serve especificamente para as transações efetuadas com revendedores de fichas mortas, e compra uma determinada quantidade dessas fichas pelo valor facial.
A quantidade de fichas adquiridas pelo revendedor de fichas mortas é monitorizada para permitir que mais tarde receba uma comissão de, consideremos a titulo exemplificativo, 0,7 por cento do total das fichas compradas.
Estes 0,7 por cento são considerados como “taxa de comissão sobre fichas mortas”.
Com as fichas compradas no bolso, o revendedor circula pelo casino a fim de criar empatia, amizade, cumplicidade e confraternizar com importantes jogadores VIP. Muitas vezes, as mesas de bacará são os lugares privilegiados para atingir tal propósito.
O revendedor de fichas mortas, depois de localizar o seu cliente-alvo e estabelecer a referida “amizade”, ajuda-o prestando alguns serviços.
Em troca da “amizade”, o cliente concorda em comprar-lhe fichas mortas, a uma taxa de um-para-um (nula), em vez de comprar fichas regulares nas caixas do casino. Na verdade, isto faz pouca ou nenhuma diferença para o cliente, em virtude de a função das fichas mortas e das fichas regulares ser a mesma em mesas de bacará; as fichas mortas simplesmente não são reembolsáveis nas caixas do casino.
Por exemplo, um cliente tem um orçamento de jogo de um milhão de dólares de Hong Kong e compra essa quantidade de fichas mortas a um revendedor de fichas. O revendedor recebe HK $ 1 milhão do cliente e, mais tarde, receberá uma comissão de HK $ 7.000 para comprar as fichas de casino na caixa especial do casino, obtendo um ganho operacional (antes das despesas) de HK $ 7.000.
Deve ter-se em consideração que não é fácil encontrar jogadores substanciais que estejam dispostos a ser “amigos de jogo”. Para a maioria dos revendedores de fichas mortas, não é usual angariar mais do que um ou dois jogadores por mês. Se um revendedor de fichas pode fazer apenas HK $ 7,000 de cada jogador com quem fez amizade, não será um negócio muito rentável. No entanto, o revendedor de fichas mortas pode fazer muito mais do que isso.
Os jogadores podem fazer as suas apostas com fichas mortas ou fichas regulares mas, quando ganham, são sempre pagos em fichas regulares. A maioria dos jogadores não para de apostar após “lavar” as suas fichas mortas, ou seja, após convertê-las em fichas regulares através de ganhos. Ao invés, eles continuam a apostar normalmente com as suas fichas regulares recém-ganhas.
Quando o cliente recebe fichas regulares de ganhos de jogo é uma oportunidade para o revendedor de fichas mortas fazer consideravelmente mais dinheiro. Enquanto o cliente joga numa mesa de bacará, o revendedor de fichas mortas fica atento ao contexto envolvente. Quando o cliente esgota todas as suas fichas mortas e pretende continuar a jogar com as fichas regulares, o revendedor de fichas mortas propõe algo assim: “Amigo, por favor, não faça isso que eu tenho aqui para si fichas mortas. Troque as suas fichas regulares pelas minhas fichas mortas. Para si não faz qualquer diferença, mas faz alguma diferença para mim.”
Se os padrões de ganha-e-perda continuarem, prolongando a sessão de jogo, o revendedor “rola as fichas mortas” e, como resultado, ganha mais dinheiro. No momento em que o cliente eventualmente perde para o casino todas as fichas mortas originalmente compradas ou termina o seu tempo na mesa, o revendedor de fichas mortas pode ter lucrado consideravelmente com o jogo – uma parte considerável da compra original do cliente pode estar agora no bolso do revendedor de fichas mortas.
O montante efetivo de dinheiro que o revendedor de fichas mortas faz depende de quantas vezes as fichas mortas “rolaram”, o que por sua vez depende da quantidade de rodadas de ganhar-e-perder no jogo. Se o cliente teve muito azar e perdeu todas as suas fichas mortas sem ganhar quaisquer fichas regulares, então o dinheiro feito pelo revendedor de fichas mortas com o cliente ficou limitado apenas à comissão sobre a compra de origem.
Portanto, a quantidade de dinheiro que um revendedor de fichas mortas pode fazer não está apenas dependente do número e dos níveis de apostas dos clientes que ele pode encontrar e recrutar; mais importante é o modo como os jogos realmente progridem e quão bem sucedido é o “rolamento de fichas” durante o jogo.
Nos primeiros anos, o negócio de fichas mortas era basicamente um negócio que se desenrolava dentro dos casinos. No entanto, à medida que mais e mais empresários se tornaram revendedores de fichas mortas, a concorrência para “angariar amigos” tornou-se mais intensa e o sucesso tornou-se mais difícil de alcançar. Como resultado, os revendedores de fichas tiveram que viajar para outras cidades e países para “fazer amigos” e angariá-los para os casinos. Esse fenómeno alterou significativamente a natureza do negócio de fichas mortas e criou algumas novas questões para a indústria de casino de Macau.
Com a evolução, os Jin-Ke estavam efetivamente a funcionar como agentes de marketing dos casinos, o que acabou por mudar a natureza da relação entre casinos e revendedores de fichas mortas. Nos primeiros anos, os casinos apenas os toleravam em troca do seu acordo em parar de especular com os bilhetes de ferry. De acordo com esta evolução do relacionamento, os casinos começaram a beneficiar cada vez mais com o novo negócio trazido pelos revendedores de fichas mortas, servindo estes como recrutadores de clientes.
Com o tempo, os custos e os riscos associados a “fazer amigos ” aumentaram, como resultado da necessidade de desenvolver esforços mais intensos de recrutamento. Os negociantes de fichas mortas tinham que pagar o transporte, alojamento e outras despesas aos seus clientes potenciais antes que pudessem realmente obter proveitos através das vendas de fichas mortas e rolamento de fichas. Além disso, tornava-se necessário estabelecer um mecanismo institucionalizado para reconhecer e proteger as relações entre recrutadores e recrutados, a fim de salvaguardá-los de eventuais expedientes oportunistas de outros revendedores de fichas mortas.
Uma vez iniciados os revendedores em ir para o exterior recrutar clientes, o mercado de fichas mortas expandiu-se substancialmente. Como resultado, o número de revendedores de fichas mortas acompanhou essa tendência expansionista, de um inicio de algumas dezenas, para um mercado onde operam vários milhares. A gestão da STDM encontrou cada vez mais dificuldades em lidar com a dispersão de revendedores independentes e, portanto, procurou alternativas para organizar e racionalizar essas transações. Com efeito, os revendedores de fichas mortas evoluíram a partir de Jin-Ke para “promotores VIP” do mercado em expansão.
Clientes VIP
Em Macau, o termo cliente VIP tem um significado específico, e não é equivalente à expressão americana “high roller”. Um cliente VIP deve cumprir duas condições: em primeiro lugar, deve ter um significativo orçamento de jogo , digamos, pelo menos HK$ 500.000 por viagem; segundo, deve ser recrutado, afiliado e financiado por um operador junket para jogar numa sala VIP.
Até 2002, os clientes VIP vinham principalmente de Hong Kong. Posteriormente, até 2008, mais de 80 por cento vieram da China Continental. De facto, com a entrada de novos operadores de casino em Macau (Las Vegas Sands, Wynn Resorts, Melco PBL e MGM) no negócio de mercado de massa, bem como no negócio de sala VIP, tornou-se mais difícil preservar a partilha tradicional de estruturas, preços e receitas entre os principais atores de salas VIP. Como resultado, os casinos que lidam com o recente negócio competitivo de salas VIP mudaram a sua atenção para a China Continental para procurar novos clientes e novos operadores junket.
Estas mudanças concorrenciais também têm tido impacto significativo no sistema de salas VIP de Macau, bem como nas suas operações. Os custos e fatores de risco são geralmente mais elevados quando se lida com os clientes chineses do Continente em relação aos residentes de Hong Kong. Alguns promotores VIP foram incapazes de encontrar operadores junket suficientes para abastecer os clientes. Custos e riscos mais elevados e subsequentes lucros menores atiraram alguns operadores junket para fora do negócio. Mais importante, no entanto, foi emergência de “consolidadores junket”; por exemplo, a empresa AMA International, nos anos de 2007 e 2008.
Os consolidadores Junket são consórcios constituídos por contratantes de salas VIP e operadores junket que constituem empresas com a intenção expressa de aumentar o poder de negociação desses intermediadores em relação às concessionárias (as empresas de casino.) O principal objetivo dos consolidadores junket consiste em extrair uma proporção mais elevada do ganho teórico dos jogos das salas VIP. O primeiro consolidador junket foi a AMA International, uma subsidiária da A-MAX, empresa de capital aberto baseada em Hong Kong.
Em abril de 2008, a AMA Internacional informou que gerou um nível de vendas de fichas mortas de USD 5.3 mil milhões, refletindo um ganho teórico de cerca de USD 142 milhões (a AMA Internacional tinha estabelecido um acordo de exclusividade com a PBL Melco para o negócio das salas VIP, em troca de 1,35 por cento sobre as vendas de fichas mortas. Isto representou cerca de metade da ganho teórico no jogo de bacará).
Os atores principais
Tradicionalmente, o sistema de contratos das salas VIP de Macau é organizado em torno de quatro atores: o Casino, o Jogador VIP, o Contratante da sala VIP (“Promotor VIP”) e o Representante do cliente VIP (Operador junket).
O Casino
Macau teve apenas uma empresa concessionária com operações de casino, de 1962 até Maio de 2004, a STDM era a única operadora do sistema contratual das salas VIP tradicionais, até então, quando o Casino Waldo – propriedade da empresa baseada em Hong Kong, Galaxy – abriu e iniciou o negócio VIP neste sistema.
Tendo este sistema sido criado sem o devido enquadramento legal, a STDM desempenhou um papel dominante no estabelecimento das regras, bem como na sua gestão e aperfeiçoamento.
Promotor VIP
O promotor VIP, ou contratante, é um interveniente preponderante dentro do sistema contratual tradicional de salas VIP, entre o casino e os operadores junket. Ele é o elemento basilar para erigir, organizar e suportar a rede interpessoal de operadores junket, servindo também como um provedor de empréstimos para operadores junket e, ocasionalmente, para os clientes.
Um contratante tradicional de sala VIP é, tipicamente, uma pessoa com especiais competências em relações públicas, hábil a lidar com assuntos pessoais complexos, delicados e por vezes até mesmo perigosos. O promotor VIP é também aquele que corre maior risco nas operações de crédito associadas ao sistema contratual das salas VIP. Os promotores VIP podem ser pessoas singulares ou pessoas coletivas.
Operador “Junket”
O operador “junket” é, tipicamente, um trabalhador por conta própria que ganha comissões sobre “fichas mortas” depois de “vender” os seus clientes a um promotor VIP. Os operadores junket evoluíram de revendedores de “fichas mortas”, que lidavam primordialmente com os clientes já no interior do casino, para indivíduos que recrutam clientes por sua própria conta e risco.
Como tal, os operadores junket não são apenas revendedores de “fichas mortas”, mas também agentes de marketing para os promotores VIP, bem como para o casino.
Um modo típico de um operador junket trabalhar com os clientes pode ser descrito da seguinte forma:
Segmentar
A sala VIP é construída em torno do contratante. No entanto, em alguns casos, um operador junket tem também uma equipa própria. Por exemplo, os operadores junket podem abrir agências de viagens em grandes cidades e contratar ou colaborar com representantes locais para trabalhar para eles.
Nos anos de 1980 e 1990 – quando o principal mercado de clientes da indústria de casino de Macau era Hong Kong – a maioria dos operadores junket operava individualmente. Um único junket viajava entre Hong Kong e Macau e fazia todo o trabalho de recrutamento.
A partir do momento em que o principal mercado de jogo em Macau transitou de Hong Kong para a China Continental, os processos de recrutamento tornaram-se mais complexos. A distância, as diferenças culturais e até mesmo barreiras linguísticas – alguns promotores VIP cuja língua nativa é o cantonês e não falam mandarim – têm que enviar operadores junket para organizar as suas próprias equipas. O novo termo que tem sido usado para designar estes operadores junket é bo-jao, que literalmente significa “porteiro”.
Um operador junket tiradicionalmente concentra-se numa área geográfica específica e monitoriza-a a fim de verificar se aí existem pessoas suficientemente ricas e com potencialidades para vir a ser clientes VIP. Quando um operador junket, ou os seus homens, detetam tal alvo, o próximo passo será criar uma oportunidade de contacto de modo a estabelecer uma “amizade” ou relacionamento com o alvo.
Fazer Amizade
Por norma, os recrutadores de jogadores, inicialmente, não informam os clientes-alvo da sua intenção real. Geralmente, o recrutador diz que integra uma agência de viagens focalizada em visitas a Macau. Se o processo de “fazer amizade” for bem sucedido, proporá uma viagem gratuita a Macau oferecida pela agência de viagens ou por si próprio, na qualidade de “amigo”.
O Guia
No caminho para Macau, o companheiro (operador junket ou assistente) paga todas as despesas, incluindo transporte e acomodação. Quando chegam ao destino é sugeridauma visita ao casino. Se a sugestão for aceite será proposta uma visita à sala VIP do casino. O cliente recrutado é encaminhado até à sala VIP onde será afiliado juntamente com o recrutador.
Emprestar Fichas Mortas sem Juros
Já na sala VIP, o cliente é previamente informado da política da sala VIP: O seu orçamento de jogo deverá obedecer a um mínimo, por exemplo, HK$ 500.000 (cerca de 48.000€), a fim de estar apto a jogar na sala VIP.
Este é o momento em que o operador junket pode avaliar se a estratégia está a funcionar. Se se verificar que o cliente não está disposto a continuar – o cliente não é assim tão rico ou não está disposto a aceitar um empréstimo tão avultado – então, todos os esforços empreendidos e os custos despendidos até este ponto têm de ser absorvidos como perdas pelo operador junket.
Por outro lado, se o cliente concordar com os termos propostos terá acesso a um empréstimo de fichas mortas (sem juros) de, digamos, um milhão de dólares de Hong Kong (cerca de 96.000€). O operador junket recebe as fichas mortas por empréstimo ou compra-as a partir de seu “patrão”, o promotor VIP. Neste momento o operador junket fez o seu primeiro dinheiro de comissão (sobre o empréstimo de fichas mortas) de HK $ 7.000. Se esta comissão vai realmente ser cobrada pelo operador junket dependerá da cobrança da dívida com sucesso ou dos ganhos recolhidos.
Lidar com fichas mortas
O cliente é levado para junto de uma mesa de bacará e começa a sua aventura. É também a hora de o seu representante ganhar comissões adicionais por meio do giro de fichas. Neste contexto ele voltou ao papel dos seus antecessores – um revendedor de fichas mortas. Para o negócio de operador junket esta é a razão fundamental pela qual a sociedade de Macau ainda se refere a eles pelo antigo título de “revendedores de fichas mortas” (da-ma-zai).
Neste texto usamos esta referência para distinguir os revendedores dos velhos tempos, que faziam dinheiro só para si, dos novos operadores junket, que beneficiam não apenas a si próprios, mas também o casino e os promotores VIP.
Nesta fase, o recrutador de sucesso está junto do seu “amigo” jogador, atento ao seu desempenho, com as fichas mortas preparadas para serem escoadas em troca das fichas regulares sacadas junto do seu jogador sempre que este ganha.
Os dois “amigos” sentem a ansiedade transmitida à medida que o jogo se desenrola, porém com objetivos bem diferentes: O jogador só quer ganhar, enquanto o operador junket espera por períodos prolongados de ganhos e perdas.
Qualquer das situações, no entanto, justificará o investimento: se o jogador estiver em “maré de sorte”, a ganhar, o operador junket espera uma generosa gorjeta e a dívida paga imediatamente; se o jogador estiver em “maré de azar”, o operador junket ganha a comissão sobre as fichas mortas perdidas pelo jogador.
Como, na realidade incontornável dos jogos de casino, os perdedores são mais comuns que os ganhadores, na vasta maioria dos casos a aventura culminará com a cobrança da dívida.
Cobrar dívidas
Considere-se o caso em que a aventura termina depois do cliente ter perdido a totalidade do montante disponibilizado a crédito por parte do operador junket. O jogador deverá pagá-lo de volta ao operador. Porém, pode não estar disposto ou não ser capaz de fazê-lo.
Como, então, será cobrada tal dívida? É interessante notar que no âmbito do sistema das salas VIP de Macau, as dívidas de jogo não são nem legais nem ilegais (anteriormente à aprovação da lei de crédito de Macau, em 2004, era ilegal os casinos concederem crédito, mas não o era para os intermediários, tais como contratantes de sala VIP ou operadores junket).
Os operadores junket de Macau, normalmente, não recorrem aos tribunais para requere a execução legal das dívidas, embora a lei de crédito de jogo lhes habilite a fazê-lo. A forma como muitas dívidas de jogo são cobradas assenta em preceitos culturais, onde a “amizade”, a “consciência”, a “família”, o “prestígio” ou a “honra” assumem particular relevância.
Muitos casos são eventualmente resolvidos com base nestes elementos culturais. Pouco se sabe sobre os esforços e procedimentos levados a cabo à margem da lei, sob a forma de ameaça, chantagem ou coação física perpetrada contra os devedores ou as suas famílias. Desconhece-se a real dimensão do recurso a tais procedimentos para cobrança de dívidas de jogo neste sistema, embora seja provável que não sejam invulgares ou ocasionais.
Um operador junket, supostamente, tem algum conhecimento sobre a liquidez financeira do seu cliente através de informação inicialmente recolhida aquando da fase de segmentação e recrutamento. Assim, quando um operador junket convida o cliente para um empréstimo de fichas mortas, deverá ter uma razoável noção sobre o seu limite de crédito e uma expectativa apurada sobre a sua capacidade de consolidação da dívida e resgate do crédito.
Deste modo, o sistema de cobrança de dívidas deve funcionar sem o recurso frequente a expedientes coercivos de ameaças de violência ou intimidação, ou procedimentos judiciais para o efeito.
No entanto, quando não são viáveis no seio do sistema acordos de pagamento de dívidas em tempo útil, outros meios de cobrança podem efetivamente vir a ser recrutados à margem da lei.
A extensão e frequência com que se faz uso destes meios (ameaças, intimidação, coação, violência, crime induzido como desfalques, etc ) representa uma ameaça evidente para a credibilidade e reputação do sistema, dos jogadores afetados e do Estado de direito, para além de um complexo problema para os reguladores, em particular aqueles que fora de Macau pugnam para que os seus mercados e operadores licenciados funcionem de acordo com boas práticas e padrões de referência regulatórios internacionais.
Os elementos principais
Tradicionalmente, a construção do sistema de contratos das salas VIP de Macau envolve três elementos principais: a Sala VIP, o Contrato da sala VIP e o Sistema de “fichas mortas”.
Sala VIP
A sala VIP é uma sala individual ou conjunto de salas dentro de um grande casino, especificamente concebidas e destinadas para uso exclusivo de clientes VIP. No âmbito de um sistema contratual específico, uma sala VIP tem a sua própria caixa que medeia a interação financeira entre o casino e o promotor VIP. Esta caixa está aberta aos promotores VIP e operadores junket apenas. Os clientes VIP nada têm a ver com esta caixa.
Todos o mobiliário, equipamentos e utensílios no interior das salas VIP continuam a pertencer e são disponibilizados pelo casino; os croupiers e os gestores de jogo são empregados do casino; e as operações de jogos de uma sala VIP são executadas pelo casino. Com efeito, apenas as ações de marketing foram contratualizadas com os promotores VIP e os operadores junket que lhe estão subordinados.
Para além das salas VIP, na maioria dos históricos e novos casinos de Macau existem “salas de jogos de massas” onde os clientes do mercado de massas jogam. Estas salas funcionam de uma forma semelhante às salas comuns dos casinos do Nevada, Atlantic City ou outras jurisdições legais.
Contrato de Sala VIP
Um contrato de sala VIP é um acordo escrito entre uma empresa concessionária de casino (como a STDM) e um promotor VIP onde se estabelecem os direitos e responsabilidades de ambas as partes. O documento é redigido tendo cada sala de jogo por referência, sem que exista uma harmonização de disposições normativas, termos e condições. No entanto podem ser delineados um conjunto de princípios gerais nestes contratos.
Um exemplo das condições contratuais e de distribuição das receitas:
1) Vendas mínimas de fichas mortas.
No contrato de sala VIP, o promotor VIP garante um montante mínimo de vendas de fichas mortas durante um determinado período (geralmente um mês). Se o contratante não cumprir o montante mínimo de vendas, ele pode ser “demitido” pelo casino.
(2) Prémio por excesso de vendas.
Se um promotor VIP vende mais fichas mortas que o valor mínimo prometido, a concessionária do casino vai premiar o contratante com uma parcela das vendas maior. Por exemplo, o promotor pode receber 0,15 por cento suplementar sobre a quantidade de fichas mortas vendidas para além do mínimo acordado.
3) Taxa de comissão sobre fichas mortas.
A taxa de comissão deve ser estipulada no contrato de sala VIP. Durante a maior parte do tempo em que a STDM operou como concessionária de monopólio em Macau, esta taxa manteve-se em 0,7 por cento. No entanto, desde 2005, quando o Sands Macau e depois outros casinos entraram no negócio de contratos VIP, a taxa foi subindo. Note-se que este sistema implica que o promotor VIP receba um pagamento baseado nas vendas efetivas de fichas mortas (ou ganho teórico na sala VIP) e não sobre os resultados reais – ganhos e perdas – dos jogos.
4) Partilha da receita residual.
Para entender o conceito de “receita residual”, é preciso conhecer a sequência da disponibilidade da receita dentro da sala do casino, no sistema contratual tradicional VIP.
O ganho do casino é alocado na seguinte ordem:
4.1) Cerca de 39 por cento do ganho real é tributado como imposto sobre o jogo e constitui receita fiscal do Governo de Macau;
4.2) As comissões sobre fichas mortas são, então, pagas a promotores VIP com base nas vendas de fichas mortas;
4.3) As recompensas para o excesso de vendas são pagas ao promotor VIP;
4.4) Uma determinada parcela da receita residual é atribuída ao promotor VIP;
4.5) Os custos operacionais da concessionária do casino são cobertos;
4.6) O restante residual é retido como lucro do casino.
O termo “partilha da receita residual” encontra-se na quarta prioridade desta lista. Depois da autoridade fiscal cobrar um imposto sobre o ganho do casino, após promotores VIP receberem as suas comissões de fichas mortas, e a sua recompensa sobre o excesso de vendas, então o “residual” é partilhado entre o casino e o promotor VIP. Num exemplo, o casino tem 70 por cento e o contratante recebe 30 por cento deste residual.
5) Depósito.
O promotor VIP deve manter uma determinada quantia de dinheiro em depósito no casino, variando entre vários milhões de dólares de Hong Kong (ou outra moeda equivalente) e centenas de milhões, em função das exigências da sala VIP, visando proteger a concessionária do casino de eventuais riscos de crédito. O depósito constitui um teto para as operações de crédito de fichas mortas entre o casino e o contratante – o casino tradicionalmente nunca empresta fichas mortas aos promotores VIP em quantidades superiores ao montante em depósito.
Sistema de “fichas mortas”
Também chamadas de fichas junket, fichas não negociáveis, fichas não pagáveis, ou fichas de argila, são uma espécie de fichas de casino que são vendidas ou emprestadas pelo casino aos promotores VIP ou operadores junket somente para fins de apostas. As fichas mortas não são pagáveis ou reembolsáveis pelos clientes, e apenas podem ser usadas para fazer apostas na sala VIP onde foram compradas ou emprestadas.
Em Macau, o preço normal das fichas mortas, até surgir a concorrência recente, foi de uma unidade de dinheiro menos cerca de 0,7 por cento do valor facial (esta comissão é efetivamente um “preço”, cujo valor assenta em condições de oferta e procura, bem como no poder de negociação relativo entre casinos e contratantes das salas VIP). A diferença de avaliação, por exemplo 0,7 por cento, conhecido como “comissão de fichas mortas” (que na verdade é uma comissão paga sobre a compra de fichas mortas a uma taxa de 0,7 por cento do valor facial da ficha), funciona como um veículo de retribuição pelo casino das ações promocionais e de marketing dos promotores VIP e operadores junket. As fichas mortas são projetadas para garantir que são realmente apostadas em mesas de jogo naquela sala VIP em particular, em vez de voltar a ser sacada na caixa sem ter sido colocada em jogo.
As operações do sistema contratual de Sala VIP
Estas treze operações fornecem uma descrição geral da concepção do sistema tradicional:
Transação 1:
O promotor VIP efetua um depósito na conta do casino. Isto garante ao casino a ausência de risco de crédito e estabelece uma relação a partir da qual o promotor VIP vai operar.
Transação 2:
O casino fornece fichas mortas ao promotor VIP.
Transação 3:
O promotor VIP empresta fichas mortas ao operador junket.
Transação 4:
O operador junket empresta fichas mortas ao seu cliente, o jogador VIP.
Transação 5:
Usando as fichas mortas emprestados, o jogador VIP inicia o jogo no casino.
Transação 6:
O jogador VIP acumula fichas regulares enquanto “lava” as suas fichas mortas (jogando com as fichas mortas até que são perdidas) no decorrer do jogo.
Transação 7:
O operador junket inicia a negociação de fichas mortas (ou seja, “rolamento de fichas”). A fim de impedir o jogador de usar fichas regulares nas suas apostas, o operador junket permanece junto deste, continuando a trocar fichas regulares do jogador por fichas mortas que ele tem na mão, a um preço de um para um.
Transação 8:
O operador junket vende as fichas regulares que “comprou” ao seu cliente por meio da transação 7 ao promotor VIP e recebe o valor equivalente em fichas mortas, mais comissão.
Transação 9:
O promotor VIP vende as fichas regulares que “comprou” ao seu operador junket por meio da transação 8 ao casino pelo valor equivalente em fichas mortas, mais comissão.
Transação 10:
Usando as fichas mortas que “comprou” ao seu operador junket na operação 7, o jogador continua a apostar até que, mais uma vez, esgota todas as suas fichas mortas. O ciclo continua até que o jogador decide sair, ou até que o jogador tenha perdido todas as suas fichas de jogo.
Transação 11:
O operador junket inicia a cobrança de dívida junto do cliente – que tinha sido criada pela transação 4 – independentemente de o cliente ter ganhado ou perdido.
Transação 12:
O operador junket paga a sua dívida – que foi criada pela transação 3 – ao promotor VIP.
Transação 13:
O promotor VIP reembolsa o investimento original de fichas – que foi criado pela transação 2 – para o casino.
Estas treze operações fornecem uma descrição geral da concepção do sistema tradicional.
Na prática, existem variações. Por exemplo, quando um jogador ganha e deixa a sala VIP com os seus ganhos, normalmente salda a sua dívida imediatamente e dá uma dica ao seu operador junket. Além disso, como observado anteriormente, quando a relação contratual o exige, o casino paga um bónus de sobre-venda ao promotor VIP, o casino e o contratante dividem a receita residual, ou outros elementos contratuais.
Salas VIP e a nova concorrência em Macau
A extensão das receitas do jogo em Macau gerado pelo salas VIP é impressionante.
Em termos de proveitos dos casinos e receitas fiscais para a autoridade tributária, o setor das sala VIP desempenhou um papel dominante na indústria dos casinos de Macau nos últimos anos. No entanto, em termos de lucro dos casinos, o setor de mercado de massas tornou-se um contribuinte cada vez mais importante, em parte devido ao facto de mais de 50 por cento das receitas das salas VIP dos casinos serem absorvidas pelos pagamentos aos promotores VIP e seus representantes. Dentro do sistema contratual VIP, as medidas de marketing, historicamente não favoreciam os clientes, mas sim os casinos, os operadores junket e os promotores VIP.
Sob a nova lei de jogo e posterior aumento da concorrência, o equilíbrio deslocou-se mais para os consumidores, operadores junket e promotores VIP, com os consolidadores junket a ganhar um poder considerável. A concorrência entre casinos elevou os custos de marketing VIP, alimentando uma competição predatória. Os casinos procuraram captar ou proteger a sua quota de mercado, o que resultou em margens apertadas. As margens de lucro das operações de salas VIP caíram consideravelmente abaixo daquelas que são geradas pelas operações do mercado de massas.
Sociedade de Turismo e Diversões de Macau (STDM)
Ao abrigo da regulamentação portuguesa, o jogo foi legalizado em Macau em 1847. Esta pequena ex-província ultramarina asiática de Portugal tornou-se conhecida mundialmente como “Monte Carlo do Oriente”. A primeira concessão de monopólio de casinos foi feita à empresa Tai Xing em 1937, tida por demasiado conservadora para explorar todo o potencial da indústria. Durante a concessão a esta empresa a oferta limitou-se a jogos chineses. Em 1962, o governo concedeu à Sociedade de Turismo e Diversões de Macau (STDM) os direitos de monopólio a todas as formas de jogos de azar. A concessão de jogo exclusiva da STDM foi prorrogada em 1986 por mais 15 anos.
Hoje, vários casinos continuam a ser operados pela STDM, tornando-se a espinha dorsal da indústria de turismo e entretenimento de Macau. O número de visitantes anuais aumentou de meio milhão em 1961 para 2 milhões em 1973, em seguida para 4 milhões em 1983 e mais de 8 milhões em 1996, recuando para 7,4 milhões em 1999.
Além de jogar um papel fundamental no desenvolvimento, prosperidade e crescimento de Macau, a STDM é o maior contribuinte nos impostos da região suportando ainda a maior parte dos projetos de infraestruturas macaenses. A STDM, também é o maior empregador comercial, empregando mais de 5% da força de trabalho de Macau. Através da enorme receita proveniente do jogo Macau tem sido capaz de manter o estatuto de porto livre, continuar a investir em infraestruturas e adotar uma política de baixa tributação.
A centralização da propriedade dos casinos parece ser uma boa forma de dirigir o negócio do jogo num pequeno território como o de Macau, tornando-se mais fácil gerir e manter a ordem no interior dos casinos. No entanto, ao longo do tempo o excesso centralização e monopolização configurou um contexto de escassos incentivos para a STDM modernizar os seus serviços, reduzir custos e procurar optimizar a eficiência nas operações. O processo administrativo resultou em desperdício de tempo e recursos. Combinado com o aumento da concorrência de casinos em latitudes próximas, como a Tailândia, Myanmar ou Coreia, bem como casinos flutuantes em mares adjacentes, os consumidores são atraídos para esses novos locais, frequentemente com melhores instalações e serviços.
No início, a STDM observou as regras do sistema instituído e funcionou como única operadora sob concessão exclusiva. Porém, a fim de reduzir custos administrativos e de marketing sem deixar de atrair mais clientes, a STDM decidiu alterar o seu modelo de negócios na década de 1980 deixando de operar as salas de jogos dentro dos seus casinos (1984). Com essa redefinição no funcionamento das salas de jogos, o sistema de “fichas mortas” e o negócio “bate-ficha” estabeleceu-se em salas de jogos “individuais ou subcontratadas”.
O sistema de “fichas mortas” da STDM
A STDM importou a ideia de “fichas mortas” da Europa na década de 1970, porém o primeiro sistema de “fichas mortas” organizado surgiu nos seus casinos de Macau apenas em 1980, quando as salas de jogos informais começaram. As “fichas mortas” (sei-ma), também chamadas de fichas não negociáveis ou fichas “de barro” (lai-ma), são fichas que não podem ser trocados por dinheiro e apenas podem ser utilizadas em salas de jogos específicas para fins de jogo singular.
A função evidente das “fichas mortas” é atrair clientes e mantê-los envolvidos no jogo. As fichas de uso corrente (pagáveis) podem ser usadas para apostas em todas as salas de jogo e são convertíveis em dinheiro a qualquer momento que os clientes decidirem. Existem fichas de correntes que variam entre o montante de 10 a 200.000 MOP (Patacas de Macau) e HKD (Dólares de Hong Kong). No entanto, não há “fichas mortas” para MOP e o menor valor das “fichas mortas” é 1.000 HKD, aumentando para 5.000 HKD, 10.000 HKD, 50.000 HKD, 100.000 HKD e 500.000 HKD.
Todas as fichas correntes de valor inferior a 10.000 HKD são de forma circular com o logótipo “STDM” e o valor impresso, o tamanho aumenta com o valor, enquanto as “fichas mortas” são geralmente de forma retangular. Além do logótipo da STDM, a palavra “Junket” e às vezes o nome da sala de jogos são impressas sobre as “fichas mortas”, de modo a distingui-las das fichas correntes. As “fichas mortas” para uso nas diferentes salas de jogos variam em tamanho e cor, por vezes, até mesmo em forma e apenas podem ser usadas em salas de jogos específicas.